Eu estava lá do mesmo jeito em que - se quisesse - me encontraria alguns anos atrás. estava com aquele mesmo jeito tímido mas um tanto quanto irônico.
levando ainda aquele mesmo sorriso de canto de boca; e aquela velha mania de pequenos toques sobre os lábios quando minha autodefesa fosse minimamente exposta.
Me sentei na mesa mais distante de todos.
cruzei minhas pernas e coloquei minhas mãos sobre a mesa – jeito inconsciente de me sentir estranhamente familiarizada com o desconhecido. Um jeito – único - de exteriorizar a não importância com os boçais que a vida nos dá. afinal, qualquer lugar que eu quisesse estar; momentaneamente era meu.
pedi um martini. fazia tempo que não me deliciava com o meu velho drink - com a mesmo capricho estranho de rodar os dedos sobre a taça.. de alguma forma, meu mundo particular ainda estava intacto.
as minhas erradas escolhas - conscientes - só me distanciam de mim. me afastam da minha verdadeira essência.. me afastaram daquela mulher - deliciosamente - perdida.
Respirei fundo e lembrei.
lembrei do momento em que me confiei ao universo superficial; lugar onde a superficialidade me deixavam menos tensa; lugar único para não sentir tanta dor.
de alguma forma a dor não me tocava; o amor não me beijava; e as palavras não entravam no meu coração. De alguma forma eu conseguia segurar a essência que me construiu.
me enjaulei. me prostrei. me rendi.
aquela armadura caiu sobre meu colo.. como se fosse minha essência retornando ao corpo de menina-mulher.
me levantei. meu ser caiu sobre meus pés. tudo se quebrou.. nem um caco ficou sobre outro.
tudo se despedaçou e todos os cacos acumulados espatifaram diante de mim.
uma nova chance. uma nova forma de recomeçar e me abraçar.
a minha fortaleza está em mim e nos meus milhões de cacos amontoados. a minha franqueza está na minha própria força.
meu universo; minha essência.
minha força, meu universo.
vou embora e jogo aos ventos meus milhões de pedaços.. jogo meus pedaços para que um dia ele se lembre onde eu estive e ainda mantenha em si, o pedaço que merece de mim.
Afinal, cada um tem o - bom - pedaço que merece.
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