quarta-feira, 12 de março de 2014

meus pedaços.

Eu estava lá do mesmo jeito em que - se quisesse - me encontraria alguns anos atrás. estava com aquele mesmo jeito tímido mas um tanto quanto irônico.

levando ainda aquele mesmo sorriso de canto de boca; e aquela velha mania de pequenos toques sobre os lábios quando minha autodefesa fosse minimamente exposta.

Me sentei na mesa mais distante de todos.

cruzei minhas pernas e coloquei minhas mãos sobre a mesa – jeito inconsciente de me sentir estranhamente familiarizada com o desconhecido. Um jeito – único - de exteriorizar a não importância com os boçais que a vida nos dá. afinal, qualquer lugar que eu quisesse estar; momentaneamente era meu.

pedi um martini. fazia tempo que não me deliciava com o meu velho drink - com a mesmo capricho estranho de rodar os dedos sobre a taça.. de alguma forma, meu mundo particular ainda estava intacto.

as minhas erradas escolhas - conscientes - só me distanciam de mim. me afastam da minha verdadeira essência.. me afastaram daquela mulher - deliciosamente - perdida.

Respirei fundo e lembrei.

lembrei do momento em que me confiei ao universo superficial; lugar onde a superficialidade me deixavam menos tensa; lugar único para não sentir tanta dor.

de alguma forma a dor não me tocava; o amor não me beijava; e as palavras não entravam no meu coração. De alguma forma eu conseguia segurar a essência que me construiu.

me enjaulei. me prostrei. me rendi.

aquela armadura caiu sobre meu colo.. como se fosse minha essência retornando ao corpo de menina-mulher.

me levantei. meu ser caiu sobre meus pés. tudo se quebrou.. nem um caco ficou sobre outro.

tudo se despedaçou e todos os cacos acumulados espatifaram diante de mim.

uma nova chance. uma nova forma de recomeçar e me abraçar.

a minha fortaleza está em mim e nos meus milhões de cacos amontoados. a minha franqueza está na minha própria força.

meu universo; minha essência.

minha força, meu universo.

vou embora e jogo aos ventos meus milhões de pedaços.. jogo meus pedaços para que um dia ele se lembre onde eu estive e ainda mantenha em si, o pedaço que merece de mim.

Afinal, cada um tem o - bom - pedaço que merece.

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