terça-feira, 13 de abril de 2010

as perdições.

O sol ainda não tinha aparecido naquela manhã. Era inevitável não tremer levemente, ao sentir o vento gélido, que ainda congelava aos poucos, o corpo da estranha mulher que se fascinava com o poder das águas.
Ainda com pouca roupa, e, com pouco de importância; a mulher se encontrava na solitária praia, que sempre a tinha como fiel companheira das manhãs.
Sem ao menos notar, andou durante horas na areia, que a recebia tão bem por todas as manhãs; era como se tudo ao seu redor se encaixasse perfeitamente à sua rotina.
Os pensamentos já estavam à mil, a beleza de todas as manhãs, já não estavam tão evidente; já era estranho não se encantar facilmente com a beleza ao seu redor.
Já estava fatigante a manhã, para a forte mulher, que sem se hesitar, se prostou impacientemente, tocando levemente a areia fofa - ainda pela chuva suave que caía na pequena cidade esquecida.
Era como se a sua velha conhecida, entendesse cada sentimento, cada suspiro, e cada lágrima que demasiadamente escorria pela face da magnífica mulher.
já estava evidente a exaustão de si e da solidão que há poucos dias, passou a lhe acompanhar diariamente.
Ainda com os olhos molhados, ergueu a cabeça ao horizonte - ainda distante e triste -, e pode enxergar - e sentir - com tamanha nitidez, as boas lembranças de um passado que ainda revivia constantemente. Era como nesses momentos de quimera, fosse tão evidente enxergar o velho olhar, que ainda a deixava cega; o velho perfume, que ainda a desnorteava; e todas sensações, que ainda as alucinavam. Era como se pudesse de alguma forma, sonhar acordada.
Era estranho sim, reviver o passado tão distante, em um presente tão próximo de si. Era como se pudesse sentir o passado enraizado em sua mente e em seu coração. Por um milésimo de segundos, a senhoria, ainda pudesse sentir a verdadeira felicidade. E ainda em outros segundos, a realidade - forçadamente - fazia seu papel; e subitamente levava - com agilidade impressionante - toda a felicidade momentanea, que ainda procriava na madura mulher, que ainda não se acostumava com a própria solidão.
Em meio há tanta confusão, ainda podia - vagamente - deslumbrar-se com a antiga conhecida, que ainda estava ressaquiada pela agitação - fora do normal - da noite anterior. De algum modo, era como se as confidentes pudessem sentir - em seus próprios mundos - as mesmas coisas.
As ondas, por algum motivo, passou-lhe por um fascínio estranhamente viciante, onde já era percebido cada angustia, cada raiva, e por fim, cada solidão. Sim, é como se o mar coomeçasse a se comunicar - e sentir - a mulher solitária, que se prostrava em meio à imensidão, sem ao menos se notar que de alguma forma, era tão forte quanto o poder das águas, tão mansa quanto o poder das marés, e tão serena quanto o poder do luar, quando tudo se vai.
Já não havia mais sentido. Já não havia mais respostas. Como se a vida de uma, estivesse interligada à outra, como se os sentimentos fossem os mesmos, os desejos fossem os mesmos, e as iras fossem as mesmas.
Era confuso. Era estranho. Era sedutor.
O desejo invisível de se perder uma na outra, começara a ser evidente. Passava de ser simples desejo repentino, para um cobiça insaciável.
Então, lentamente a mulher se levantou e caminhou; não demorou muito e pode sentir a frieza das águas em seu tornozelo, e por motivo qualquer, não se importou; e ainda assim, continuou caminhando; sentiu a água subir rapidamente em seu corpo, a sensação de alívio era deslumbrante. Fechou os olhos. Já não sentia o alívio há muito tempo. Não se importou. Continou a caminhar.
Caminhou até desaparecer em meio à imensidão da sua velha companheira. É como se o pacto oculto fosse fatalmente concretizado.
Elas se perderam uma na outra. O alívio foi a maior conquista das estranhas amigas.

Um comentário:

rodolfo marra disse...

me lembrou aquela propaganda com a Fernanda Vogel que tem a musica 'glory box' da banda portishead de fundo.. acho que tem uns 10 anos que passava esta propaganda na tv.
;\